Estou aposentado, como vocês sabem, desde 1999, desde o final do outro século. E este novo século trouxe um abastardamento geral da vida política nacional e de boa parte da universidade pela qual luto desde 1962.
Houve momentos em que ela foi visceralmente estuprada pelas forças da ordem tanto no plano nacional quanto estadual. Resistimos à ditadura, aos Malufs e a outros tantos que se pretendiam portadores da salvação nacional. De uma salvação que eliminava a massa da sociedade. Os liberais achavam que isso era coisa da ditadura e que caindo esta tudo voltaria ao normal. Não voltou não. Assistimos cada vez mais a destruição dos direitos sociais. Destruição programada, cruel, assassina. Devemos lutar contra a destruição do futuro desta e das gerações que se seguirão.
A Universidade sempre defendeu o seu direito a autonomia. A polícia não era, não é e nem será nunca nossa convidada. O grave – o imensamente grave – é que as autoridades universitárias abrem mão da sua autoridade e permitem – quando não convidam – a entrada da polícia no campus. Os movimentos universitários vêm lutando pela ampliação das condições de existência de uma vida acadêmica que não se reduz a assistir aulas e tirar um diploma. Quando isto ocorre há um empobrecimento geral da vida social e em especial da vida das classes trabalhadoras.
Os movimentos universitários reunidos no Fórum das Seis colocaram a questão da gratuidade ativa como condição da criação não apenas de boas condições de estudo, mas da formação de indivíduos conscientes, críticos, necessários para nossa sociedade. As autoridades universitárias não compartilham essa proposta. Moradia, é preciso afirmar, não é privilégio. Permitir que a polícia interfira na Universidade significa criminalizar os movimentos, significa abrir mão das tarefas maiores da universidade e da sociedade.
A forma correta de enfrentar as contradições que possam ocorrer no interior da vida acadêmica passa necessariamente pelo debate amplo e aberto dos problemas. Policiar a Universidade é transformá-la em uma instituição autodestruída. A autonomia não é uma palavra vazia: foi ela que garantiu que pudéssemos merecer a sustentação da sociedade. Ao invés de criminalizarmos os movimentos deveríamos ampliar as liberdades democráticas.
Tendo vivido praticamente meio século de luta pela liberdade – na sociedade e na universidade – somo-me aos que denunciam esses atropelos e estaremos permanentemente ligados na luta pela defesa dessa instituição.
Edmundo Fernandes Dias – Professor Aposentado de Sociologia do IFCH
Resolver o problema de uma ocupação estudantil em um prédio da universidade com polícia militar é caso de transferência de responsabilidade! Reitoria irresponsável!
ResponderExcluirConcordo totalmente com o sábio Professor e com o Estevan. É uma vergonha o que essa Reitoria irresponsável vem fazendo. A polícia deve cuidar dos bandidos, que aliás, estão em grande quantidade perturbando e matando pessoas de bem.
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