A moradia da Unicamp foi produto de uma intensa luta dos estu-dantes nos anos de 1986 a 1988. Durante estes dois anos, estu-dantes de diferentes cursos mantiveram uma ocupação no prédio do Ciclo Básico (recém inaugurado), o movimento foi chamado de Taba. Mais de 60 estudantes transformaram as salas de aula em suas casas diante da recusa da reitoria em garantir moradia aos estudantes de baixa renda. A Taba não só exigiu casas, mas também um espaço em que fosse garantido o convívio entre os estudantes e que necessidades básicas fossem atendidas.
Ano após ano vivenciamos um processo constante de boicote a esta reivindicação pela administração, SAE e reitoria. Tratam a moras como um depósito de estudantes, e gerem nossa casa com um regime altamente autoritário que procura minar qualquer ten-tativa de organização e integração dos moradores.
O cargo do Viotto (administrador) é indicado. Nem síndicos de prédios são indicados sem antes consultar os moradores. Este formato de administrar a moradia no entanto é bem coerente com a indicação de cargo por uma reitoria tão corrupta como a nossa. Os interesses dos últimos administradores não tem sido o de ga-rantir o bem comum à nossa comunidade. Nossos moradores de menos de dez anos de idade têm mais senso de coletivo do que toda a representação docente do Conselho Deliberativo.
Por diversas vezes percebemos que o coordenador tem desrespei-tado as deliberações do Conselho Deliberativo, ao qual ele mes-mo faz parte e, portanto, contribui nas posições, e passando por cima da Deliberação CONSU A-24/2001, que rege a moradia. Segundo esta Deliberação, o coordenador do PME deve assumir um cargo executivo e não deliberar sem o apoio dos demais con-selhos (consultivo e deliberativo). Ao invés disso, toma decisões sozinho, sem consultar os conselheiros e o mais agravante, sem consultar os representantes discentes, membros eleitos de maneira legítima por nossa comunidade.
Assim foi com a decisão de expulsar as famílias com crianças com mais de sete anos, com a expulsão de hóspedes, com as "reformas" aleatórias pela moradia, com a construção da "jaula" no CV4, com o fechamento de todos os Centros de Vivência, com a tentativa de boicote à brinquedoteca, com a destruição do labo-ratório de informática e o de revelação de fotografias, com o im-pedimento ao estabelecimento do ateliê, com a recusa em instalar internet gratuita para as casas, com a tentativa de destruição da horta, com a poda aleatória das árvores, a proibição de animais, na tentativa de instalar catraca na portaria, proibição de festas e etc.
Repudiamos com veemência esta administração que age de ma-neira individual que procura eleger aleatoriamente moradores como bodes expiatórios para problemas que envolvem toda a comunidade, inclusive a administração e a própria Unicamp. Como é o caso da falta de vagas na moradia, em que tentam jogar a culpa aos hóspedes sem assumir a não entrega de 1500 vagas acordadas há vinte anos.
A moradia foi criada pra abrigar 10% dos estudantes (o que é pouco), e no momento de sua criação isso equivaleria às tais 1500 vagas, mas não foram criadas mais que mil.
Hoje são 30 mil estudantes na Unicamp, portanto deveriam haver 3 mil vagas, mas com a reforma temos pouco mais de 900 vagas. Existem pelo menos 2100 estudantes que podem vir morar na moras com a consciência limpa de serem estu-dantes que precisam de moradia pra continuar seus estudos. Sua condição de morador é inegável e a falta de vagas é intolerável. Portanto não podemos repetir essa falácia do "hóspede" até que hajam pelo menos 3000 vagas, ou 3000 moradores na moras, somos todos moradores oficiais sofren-do com uma má administração e uma reitoria negligente.
Mais grave ainda foi a posição assumida pelo administrador e defendida pelos representantes docentes em retirar o direito de voz dos moradores nas reuniões do Conselho Deliberati-vo.
Não aceitaremos que os representantes deste conselho se fundamentem no direito divino assumido pelo professorado de tomar decisões sem a participação da grande maioria desta comunidade, nós, os moradores.
Impedir nosso direito de opinar, propor e criticar a adminis-tração de nossa comunidade é estabelecer uma censura, um corte de nossos direitos e garantir que o Conselho, que tem como princípio representar nossos interesses, se mantenha numa distância olímpica das nossas reivindicações.
Os moradores do Programa de Moradia Estudantil se levan-tam para lutar em defesa da moradia. Reivindicam uma ad-ministração participativa, estritamente democrática e susten-tam que as reivindicações da comunidade de moradores, a soberania deste Programa, sejam colocadas como prioridade deste Conselho, nas execuções da administração e postas em prática pelo administrador.
Já não aceitaremos mais qualquer tipo de expulsão de mora-dores ou deliberações individuais do coordenador.
Exigimos a ampliação imediata da moradia, a abertura e o livre acesso de todos os centros de vivência e demais espaços coletivos. Não as reformas de fachada! Queremos que o problema estrutural das casas que coloca em risco todos os moradores sejam de fato solucionados e que tenham o acom-panhamento dos próprios moradores.
Este manifesto não assume apenas um caráter de denúncia de nossa insatisfação com o coordenador, mas um aviso prévio de que estamos dispostos a tomar as medidas necessárias para o cumprimento de nossas reivindicações.
A autoridade em um lar de estudantes não se exercita man-dando, mas sugerindo e deve ser construída de maneira coletiva.
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